Àqueles que fizeram acontecer o 1º Congresso
19 May 2017
Há uma história que nos une. Memórias que percorrem os pensamentos de todos aqueles que trabalharam, sem nunca baixar os braços, para tornar inesquecíveis os dias 27, 28 e 29 de outubro de 1986. Os dias em que se assinalaram no calendário, e que jamais serão apagados, o 1º Congresso Nacional de Fisioterapeutas. A história escreve-se com quem acreditou e continua a acreditar numa profissão, que transporta um legado valioso de saber, partilha e experiência.
Congregar. A palavra que fervilhava nas mentes mais ativas dos elementos que compunham a Associação Portuguesa de Fisioterapeutas (APF). “É o tempo exato para desencadear uma ação congregadora, de reflexão sobre o significado do nosso passado e perspectivar o futuro, à luz da nossa experiência e do que há longas décadas se vem fazendo noutros países, nomeadamente da Europa”, pode ler-se no Boletim Informativo, de março de 1986, da APF.
Eram atentos e jovens os olhares que penetravam no que se passava lá fora. Não se limitavam a participar em eventos no estrangeiro, traziam colegas a Portugal com o objetivo de partilhar essa informação. “Foram vários os cursos, conferências e seminários que organizamos, antes de surgir a ideia do Congresso. Tudo era feito com o máximo de vontade e dedicação”, explica o fisioterapeuta Raul Oliveira, que após terminar o curso partiu para Inglaterra, durante os meses de férias, para “beber” do que se passava lá fora.
Junta-se a voz de António Lopes, um apaixonado pela fisioterapia e um dos grandes mentores e impulsionadores do 1º Congresso. Tudo o que aprendia no estrangeiro procurava também trazer para Portugal, partilhando junto dos seus. “O Congresso, naquele momento, sinalizava a necessidade de marcar a nossa autonomia, e sobretudo uma identidade forte. Além da componente científica, houve uma componente política e de afirmação muito forte. A escolha do local do congresso, dos convidados e do logotipo, por exemplo, denotam essa preocupação”, relembra.
No seio da Associação surgiam grupos que se dedicavam a trabalhar em diferentes áreas da fisioterapia, embora o objetivo fosse comum: promover a proximidade e a partilha entre fisioterapeutas. Os Grupos de Interesse “prometiam” não baixar os braços na valorização da profissão. E, assim, o fizeram!
Uma sala que se enche
Por influência da colega Maria Inês Bayão Horta, presidente da Comissão Organizadora e esposa de Ricardo Bayão Horta, antigo secretário de Estado, as portas da Fundação Calouste Gulbenkian abrem-se para receber mais de três centenas de fisioterapeutas - a maioria membros da APF -, de diferentes pontos do país. “A nível dos participantes a principal característica era a sua juventude. 46% tinha 25 anos ou menos e apenas cerca de 10% tinha mais de 40 anos”, lê-se na mesma brochura. Destaque ainda para a presença dos presidentes da Confederação Mundial de Fisioterapia (Margrit List) e do Comité Permanente de Ligação dos Fisioterapeutas da CEE (David Teager).
Com Raul Oliveira, um dos mentores do Congresso, sentamo-nos nas primeiras cadeiras e ficamos, por ali, a apreciar a sala a encher-se de fisioterapeutas, ansiosos por rever velhos amigos e por aprender mais e mais.
É com orgulho que Isabel de Souza Guerra, ex-presidente da Associação Portuguesa de Fisioterapeutas, relembra os dias “agitados” que antecederam o 1º Congresso Nacional de Fisioterapeutas. “Todo o trabalho desenvolvido, do primeiro ao último dia, foi feito por nós. Vivemos momentos inesquecíveis. A sala da Gulbenkian é grande, mas nós conseguimos enchê-la”, relembra a fisioterapeuta.
Através deste Congresso pretendia-se não só assinalar os 25 anos da APF, e refletir sobre a mesma, como trazer para a ordem do dia a definição atualizada do perfil profissional do fisioterapeuta nas diversas áreas de intervenção. Acrescentava-se ainda o desejo de fazer uma chamada de atenção das entidades competentes e dos restantes profissionais da saúde e educação e da população em geral para a problemática da fisioterapia e dos fisioterapeutas.
E se há dúvidas, leia as palavras de António Lopes: “Quando já tinha decorrido o congresso e estávamos muito satisfeitos numa reunião de balanço, em casa de um elemento da comissão organizadora, e agradecíamos a um dos principais colaboradores externos à organização, que tinha tido funções governativas e constituía uma referência para todos nós, o seu desafio foi: “Os portugueses são geralmente muito bons a apresentar “amostras”…mas depois não completam a encomenda. Fico à espera para ver o próximo congresso!”. Foi uma frase que me ficou gravada na memória. De facto nada estava acabado, só podia ser o princípio de uma caminhada, era preciso manter a chama, garantir a continuidade. Afinal não era o “fim da festa”. Não era mesmo!
O caminho faz-se caminhando. E os fisioterapeutas que se juntaram em 1986 continuam, hoje, juntos e a acreditar que o futuro da profissão depende da dedicação de todos. Talvez, por isso, os objetivos do 1º Congresso se mantenham de pé, mesmo passadas três décadas. A história faz-se e escreve-se com aqueles que acreditam.
Infografia:
Data: 27, 28 e 29 de outubro de 1986
Local: Fundação Calouste Gulbenkian
Tema do Congresso: 25 anos. O passado… Que futuro?
Número de participantes: 330
Presidente da Comissão Organizadora: Maria Inês Bayão Horta